Nossa colaboradora tem um blog
próprio mas aceitou o convite de colaborar com crônicas aqui na seção Na
Estante. Para nós é ESSENCIAL ter pessoas tão talentosas e generosas em
compartilhar suas historias. Seja bem vinda! E boa sorte.
Aos 35 anos é essencial ser
consciente da fase balzaquiana.
Cheguei aos 35
Quando aceitei o convite do meu amigo Celso Oliveira para escrever
esta coluna para seu blog, muitas idéias vieram a cabeça . Pensei primeiro em
escrever sobre a experiência de morar fora e blá, blá blá... Depois pensei em escrever
sobre muitas outras coisas, até que um assunto se tornou muito pertinente: Meu
35 anos completados em Janeiro deste ano.
Quando paro para pensar que faz 35 anos que estou habitando
este planeta é realmente surpreendente para mim. Me sinto muito mais jovem que
isso e me custa acreditar que não sou mais adolescente (risos).Bem, a questão é que por mais jovem que se sinta ou pareça,
as responsabilidades da idade real batem a porta e meio que te obrigam a ter
uma postura minimamente adequada. Após completar 30 anos senti que a partir
daquele momento “a ficha tinha que cair” e eu tinha que ter uma postura mais
adulta. Por mais que já fosse mãe desde os 23 e MUITAS responsabilidades de
“adulto” já faziam parte da minha vida,eu ainda ansiava pela vida jovem e livre.
Ser mãe foi um importantíssimo fator para eu parar de ser tão egoísta e
perceber que uma vida jovem e livre não se une exatamente a escolhas momentâneas
de diversão sem fim.
Passei muito tempo sem perceber que tinha que tomar a rédea
da minha própria vida e que isso também seria algo libertador. Fiquei muito
perdida quando quis que tudo acontecesse ao mesmo tempo e muito me frustrou abdicar dos meus sonhos por
um longo período por que não sabia onde queria chegar. Quando se é jovem, a
sensação de eternidade é real e inabalável. Você tem todas as respostas e
através desta certeza a prepotência se aproveita para dar o ar da graça. Muitas
das vezes digo: Quem me dera ter o corpinho de 19 com a cabeça que tenho hoje.
Mas de verdade aos 19 nem me via tão exuberante assim. E aí é onde percebo que
amo ter 35 e que amo meu corpo aos 35 .O que realmente preciso é cuidar deste
corpo e do bem estar em geral , pois quero aproveitar muito minha maturidade.
Confesso que após me casar não havia um pensamento formado
sobre gerar uma nova criança. Meu filho já tinha 6 anos e a fase “pegajoso”
estava melhorando um pouco. Comecei a fazer planos individuais e a surpresa da
segunda gravidez chegou para abalar rs. Mas como meu marido ainda não tinha filhos,
foi mais fácil digerir e perceber que era o melhor para todos.
Meu filho teria uma parceira para a vida e meu marido e eu
teríamos nossa filha . Pronto, uma linda família , igual propaganda de
margarina. Mas mais uma vez meus sonhos e planos eram adiados mais um pouquinho,
pois do jeito que gosto de me dedicar aos meus filhos isso não seria muito
difícil.
Quando minha filha chegou eu já beirava os 30 anos e com
certeza me ajudou muito a entender que daquele momento em diante eu seria muito
mais mãe do que filha e ser adulto (vamos combinar) é uma árdua tarefa.
Acrescentar uma nova criança ao orçamento familiar traz uma enorme diferença. São muitos gastos
que viram prioridade e geralmente fazem os pais adiarem seus planos pessoais. Comigo não foi
diferente e mais uma vez eu via mais e mais longe a oportunidade de alcançar meus
objetivos..
Tenho muita gratidão por ter conseguido me dedicar com
excelência a educação dos meus filhos , pois com o salário do meu marido
conseguimos nos manter por bastante tempo e fui e sou muito presente na
educação deles.
Falando neste assunto, hoje em dia vejo com outros olhos
esta dedicação. A mãe que sou para minha filha de 5 anos é a mãe que eu
gostaria de ter sido para o meu filho de 12. Faço uma comparação entre as duas
épocas e é clara a diferença . Sou uma mãe muito melhor agora.
"... a falar baixo quando na verdade queria gritar(controle é tudo!) , aprendi a comer menos, aprendi a beber menos álcool e mais água , aprendi a vencer meus medos, aprendi que sou capaz, aprendi que a vida é uma só e temos que ser felizes agora."
Quando completei 33 anos,me peguei muitas vezes pensando se algo de extraordinário aconteceria na minha
vida naquele ano, pois como uma pessoa que cresceu dentro de uma família
católica é compreensível acreditar que morremos e ressuscitamos dentro desta
idade. E não é que realmente aconteceu isso comigo. No ano de 2014 , ano da
minha “ressurreição” eu morri e voltei a viver. O destino me separou de dois
dos meus heróis: meu avô e minha mãe. Perdi os dois no mesmo ano e com uma
diferença de menos de três meses. Foi a maior presença da morte em minha vida,
e até hoje ainda não sei lidar muito bem com isso. Mas fui obrigada a
prosseguir e reencontrar sentido na vida sem os meus ídolos. Minha querida avó já
precisava de cuidados especiais desde antes destes acontecimentos e meus irmãos
menores precisavam de mim forte. Do mês de Janeiro de 2014 até o dia de hoje
tenho a impressão de que amadureci mais do que em toda a minha existência. O
sofrimento se bem entendido traz muitos benefícios , mas não é por isso que deixa de ser doído.
Com a dor da saudade vem também a valorização da vida. Tudo
se tornou potencializado e consegui extrair o melhor que eu podia de toda esta
situação. Mudei de país , mudei de hemisfério ,mudei de vida. Deixei tudo o que
conhecia e vim para o Canadá para recomeçar. Estou aqui junto com meu marido e
meus dois filhos(há um ano) .Foi aqui que eu cheguei aos 35. Não poderia estar
me sentindo melhor. Não por estar aqui, mas pelo que eu encontrei aqui.
Hoje me sinto uma mulher forte, segura. Me sinto tão bem que
sorrio até sem motivo.
Aprendi a ser grata, aprendi a ver o lado bom das coisas,
aprendi a amar minha própria companhia, aprendi a educar meus filhos, aprendi
uma nova língua, aprendi a me colocar no lugar do outro, aprendi a demonstrar
mais amor, aprendi a parar de reclamar, aprendi a valorizar a vida e o meio
ambiente, aprendi a ser menos egoísta, aprendi a ter (um pouco) ( risos) mais de
paciência, aprendi a falar baixo quando na verdade queria gritar(controle é
tudo!) , aprendi a comer menos, aprendi a beber menos álcool e mais água , aprendi a vencer meus medos, aprendi que sou capaz,
aprendi que a vida é uma só e temos que ser felizes agora.
Eu não sei se foi a chegada dos 35, se foi a mudança de país ou até mesmo o
grande baque que a vida me deu, mas eu posso dizer certamente que me sinto ÓTIMA.
Viva os 35 !!!
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