segunda-feira, 7 de março de 2016

NA ESTANTE - EDIÇÃO 2016#01 | ESSENCIAL |

NA ESTANTE 
Por Iris Haliburton 

















Nossa colaboradora tem um blog próprio mas aceitou o convite de colaborar com crônicas aqui na seção Na Estante. Para nós é ESSENCIAL ter pessoas tão talentosas e generosas em compartilhar suas historias. Seja bem vinda! E boa sorte.
Aos 35 anos é essencial ser consciente da fase balzaquiana.


Cheguei aos 35


Quando aceitei o convite do meu amigo Celso Oliveira para escrever esta coluna para seu blog, muitas idéias vieram a cabeça . Pensei primeiro em escrever sobre a experiência de morar fora e blá, blá blá... Depois pensei em escrever sobre muitas outras coisas, até que um assunto se tornou muito pertinente: Meu 35 anos completados em Janeiro deste ano.


Quando paro para pensar que faz 35 anos que estou habitando este planeta é realmente surpreendente para mim. Me sinto muito mais jovem que isso e me custa acreditar que não sou mais adolescente (risos).Bem, a questão é que por mais jovem que se sinta ou pareça, as responsabilidades da idade real batem a porta e meio que te obrigam a ter uma postura minimamente adequada. Após completar 30 anos senti que a partir daquele momento “a ficha tinha que cair” e eu tinha que ter uma postura mais adulta. Por mais que já fosse mãe desde os 23 e MUITAS responsabilidades de “adulto” já faziam parte da minha vida,eu ainda ansiava pela vida jovem e livre. Ser mãe foi um importantíssimo fator para eu parar de ser tão egoísta e perceber que uma vida jovem e livre não se une exatamente a escolhas momentâneas de diversão sem fim.


Passei muito tempo sem perceber que tinha que tomar a rédea da minha própria vida e que isso também seria algo libertador. Fiquei muito perdida quando quis que tudo acontecesse ao mesmo tempo  e muito me frustrou abdicar dos meus sonhos por um longo período por que não sabia onde queria chegar. Quando se é jovem, a sensação de eternidade é real e inabalável. Você tem todas as respostas e através desta certeza a prepotência se aproveita para dar o ar da graça. Muitas das vezes digo: Quem me dera ter o corpinho de 19 com a cabeça que tenho hoje. Mas de verdade aos 19 nem me via tão exuberante assim. E aí é onde percebo que amo ter 35 e que amo meu corpo aos 35 .O que realmente preciso é cuidar deste corpo e do bem estar em geral , pois quero aproveitar muito minha maturidade.
Confesso que após me casar não havia um pensamento formado sobre gerar uma nova criança. Meu filho já tinha 6 anos e a fase “pegajoso” estava melhorando um pouco. Comecei a fazer planos individuais e a surpresa da segunda gravidez chegou para abalar rs. Mas como meu marido ainda não tinha filhos, foi mais fácil digerir e perceber que era o melhor para todos.
Meu filho teria uma parceira para a vida e meu marido e eu teríamos nossa filha . Pronto, uma linda família , igual propaganda de margarina. Mas mais uma vez meus sonhos e planos eram adiados mais um pouquinho, pois do jeito que gosto de me dedicar aos meus filhos isso não seria muito difícil.
Quando minha filha chegou eu já beirava os 30 anos e com certeza me ajudou muito a entender que daquele momento em diante eu seria muito mais mãe do que filha e ser adulto (vamos combinar) é uma árdua tarefa.



Acrescentar uma nova criança ao orçamento familiar  traz uma enorme diferença. São muitos gastos que viram prioridade e geralmente fazem os pais adiarem  seus planos pessoais. Comigo não foi diferente e mais uma vez eu via mais e mais longe a oportunidade de alcançar meus objetivos..
Tenho muita gratidão por ter conseguido me dedicar com excelência a educação dos meus filhos , pois com o salário do meu marido conseguimos nos manter por bastante tempo e fui e sou muito presente na educação deles.
Falando neste assunto, hoje em dia vejo com outros olhos esta dedicação. A mãe que sou para minha filha de 5 anos é a mãe que eu gostaria de ter sido para o meu filho de 12. Faço uma comparação entre as duas épocas e é clara a diferença . Sou uma mãe muito melhor agora.

"... a falar baixo quando na verdade queria gritar(controle é tudo!) , aprendi a comer menos, aprendi a beber menos álcool e mais água , aprendi a vencer meus medos, aprendi que sou capaz, aprendi que a vida é uma só e temos que ser felizes agora."



Quando completei 33 anos,me peguei muitas vezes pensando  se algo de extraordinário aconteceria na minha vida naquele ano, pois como uma pessoa que cresceu dentro de uma família católica é compreensível acreditar que morremos e ressuscitamos dentro desta idade. E não é que realmente aconteceu isso comigo. No ano de 2014 , ano da minha “ressurreição” eu morri e voltei a viver. O destino me separou de dois dos meus heróis: meu avô e minha mãe. Perdi os dois no mesmo ano e com uma diferença de menos de três meses. Foi a maior presença da morte em minha vida, e até hoje ainda não sei lidar muito bem com isso. Mas fui obrigada a prosseguir e reencontrar sentido na vida sem os meus ídolos. Minha querida avó já precisava de cuidados especiais desde antes destes acontecimentos e meus irmãos menores precisavam de mim forte. Do mês de Janeiro de 2014 até o dia de hoje tenho a impressão de que amadureci mais do que em toda a minha existência. O sofrimento se bem entendido traz muitos benefícios  , mas não é por isso que deixa de ser doído.
Com a dor da saudade vem também a valorização da vida. Tudo se tornou potencializado e consegui extrair o melhor que eu podia de toda esta situação. Mudei de país , mudei de hemisfério ,mudei de vida. Deixei tudo o que conhecia e vim para o Canadá para recomeçar. Estou aqui junto com meu marido e meus dois filhos(há um ano) .Foi aqui que eu cheguei aos 35. Não poderia estar me sentindo melhor. Não por estar aqui, mas pelo que eu encontrei aqui.
Hoje me sinto uma mulher forte, segura. Me sinto tão bem que sorrio até sem motivo.
Aprendi a ser grata, aprendi a ver o lado bom das coisas, aprendi a amar minha própria companhia, aprendi a educar meus filhos, aprendi uma nova língua, aprendi a me colocar no lugar do outro, aprendi a demonstrar mais amor, aprendi a parar de reclamar, aprendi a valorizar a vida e o meio ambiente, aprendi a ser menos egoísta, aprendi a ter (um pouco) ( risos) mais de paciência, aprendi a falar baixo quando na verdade queria gritar(controle é tudo!) , aprendi a comer menos, aprendi a beber menos álcool e mais água , aprendi a vencer meus medos, aprendi que sou capaz, aprendi que a vida é uma só e temos que ser felizes agora.
Eu não sei se foi a chegada dos 35,  se foi a mudança de país ou até mesmo o grande baque que a vida me deu, mas eu posso dizer certamente que me sinto ÓTIMA.



Viva os 35 !!!







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